A tribo Iorubá, localizada na África Ocidental, possui um rico mito de criação que explica suas origens e a formação do mundo em que vivem.
No início, existiam apenas o céu acima, a água e as terras pantanosas abaixo. Olorun, o deus supremo, governava o céu, enquanto Olokun, a deusa, dominava o que estava abaixo.
Refletindo sobre essa situação, Obatalá, um deus dotado de criatividade e visão, procurou Olorun para solicitar permissão para criar terras secas, nas quais diversas formas de vida poderiam habitar. Com a permissão concedida, Obatalá consultou Orunmila, filho mais velho de Olorun e deus da profecia, que o orientou a reunir uma corrente de ouro suficientemente longa para alcançar a região abaixo, uma concha de caracol cheia de areia, uma galinha branca, um gato preto e um dendezeiro, todos transportados em uma sacola.
Após receber as contribuições em ouro de todos os deuses e os itens necessários de Orunmila, Obatalá iniciou sua descida pela corrente de ouro. Ao chegar ao fim da corrente, ainda distante do solo, seguiu o conselho de Orunmila, vertendo a areia da concha de caracol e soltando a galinha branca, que, ao pousar na areia, começou a espalhá-la, formando terras secas, colinas e vales. Obatalá nomeou esse lugar de Ifé, marcando o nascimento do primeiro pedaço de terra seca.
Com o tempo, Obatalá sentiu-se solitário e decidiu criar seres à sua imagem usando o barro. Embora tenha iniciado seu trabalho com zelo, a embriaguez causada pelo vinho de palma levou-o a moldar figuras imperfeitas. Inconsciente de suas ações, pediu a Olorun que insuflasse vida em suas criações. Ao perceber o resultado de seu trabalho no dia seguinte, Obatalá jurou jamais beber novamente e comprometeu-se a proteger aqueles que haviam sido moldados imperfeitamente, tornando-se o Protetor dos Deformados.
Ife prosperou e se transformou em uma cidade, habitada pelos seres criados por Obatalá. Todos os deuses celebraram a criação de Obatalá, exceto Olokun, que, sentindo-se desconsiderada, liberou ondas gigantescas que submergiram parte da terra e afogaram muitos de seus habitantes.
Os sobreviventes, buscando ajuda, apelaram a Eshu, que exigiu sacrifícios antes de levar a notícia aos céus. Com os sacrifícios realizados, Orunmila desceu à Terra, revertendo a inundação através de seus feitiços, permitindo que a terra seca africana emergisse novamente.
Análise no Contexto Africano
Este mito iorubá não apenas narra a criação do mundo e da humanidade, mas também explora temas como responsabilidade, poder, imperfeição e redenção. A interação entre os deuses, a criação da terra e a formação da sociedade iorubá refletem a complexidade da cosmologia iorubá e sua profunda conexão com o ambiente natural, a espiritualidade e a moralidade.
A história destaca a importância do equilíbrio e da harmonia entre os elementos, a terra e o céu, e entre as divindades e a humanidade. Além disso, o mito aborda a aceitação e a proteção da diversidade humana, simbolizada pela compaixão de Obatalá pelos deformados, reforçando a noção de que todos têm um lugar e um propósito no mundo criado pelos deuses.
Essa narrativa, rica em simbolismo e lições éticas, é um exemplo da maneira pela qual os mitos africanos transmitem conhecimento, valores culturais e lições vitais de geração em geração, moldando a identidade e a visão de mundo do povo Iorubá.