Em um conto repleto de simbolismos e lições de vida, narra-se a história de Namarasotha, um homem de condição humilde e trajado em farrapos. Certo dia, ao aventurar-se pela caça, deparou-se com uma impala morta e, ao preparar-se para aproveitar a carne, foi advertido por um passarinho para não o fazer, prometendo-lhe algo melhor adiante. Respeitando o conselho, Namarasotha prosseguiu e encontrou uma gazela morta, mas novamente foi desencorajado por outro passarinho de consumir a carne, sendo aconselhado a seguir em frente.
Sua jornada o levou até uma casa, onde foi acolhido por uma mulher que, apesar de sua relutância inicial devido à sua pobreza e aparência, insistiu para que ele entrasse. Após banhar-se e trocar suas vestes por roupas novas, a mulher o acolheu como marido, declarando que a casa e tudo o que nela havia pertenciam a ele, transformando sua vida de miséria em prosperidade.
Antes de um evento festivo ao qual deveriam comparecer, a mulher advertiu Namarasotha para não olhar para trás enquanto dançasse. Contudo, seduzido pelo ambiente festivo e embriagado pela cerveja de mandioca, Namarasotha desobedeceu à instrução da esposa e, ao virar-se, encontrou-se novamente em sua condição original de pobreza e desamparo.
Este conto, enraizado nas tradições matrilineares do Norte de Moçambique, não somente destaca a importância do casamento e da integração familiar como essenciais à dignidade e ao respeito de um homem, mas também simboliza a infidelidade matrimonial através dos animais mortos encontrados por Namarasotha. Os passarinhos, representando os anciãos, orientam-no na busca por uma “riqueza” verdadeira, que se traduz no casamento com uma mulher livre e na constituição de um lar. A história ressalta a necessidade de respeitar as normas e conselhos daqueles que nos guiam, demonstrando que a desobediência a esses princípios pode resultar na perda de status e bem-estar conquistados.