O Louva-a-deus ocupa um lugar especial no panteão de seres sobrenaturais dos San da Namíbia, não sendo considerado um deus como a lua e o sol, mas sim um ser dotado de características eminentemente humanas que, de muitas maneiras, personifica o próprio povo San.
Ele é visto como um sonhador Bosquímano, assemelhando-se ao inseto real com seu rosto pequeno e triangular e olhar perspicaz. As figuras que os artistas primitivos pintaram nas paredes de seus abrigos sob rochas dançam como o próprio Louva-a-deus.
Louva-a-deus é descrito como um ser extremamente familiar, valorizando a presença de seus entes queridos. Sua esposa é Dassie, o damão-da-rocha. Seu filho, uma versão jovem de seu pai astuto. Porcupine, a filha adotiva cujo verdadeiro pai é o monstro conhecido como o Devorador, por quem ela tem muito medo, é casada com um ser que é parte do arco-íris, chamado Kwammanga, com quem tem dois filhos, Kwammanga e Mongoose (ou Ichneumon), um jovem autoritário que frequentemente desafia seu avô Louva-a-deus. Além disso, Louva-a-deus tem uma irmã, a encantadora Blue Crane.
A História de Louva-a-deus, Avestruz e o Fogo
Além da vida, Louva-a-deus também trouxe o primeiro fogo aos San. Antes disso, eles consumiam sua comida crua, semelhante aos leões e leopardos, e dormiam em seus abrigos noturnos sem luz para iluminar as longas horas de escuridão.
Louva-a-deus observou que a comida do Avestruz tinha um aroma diferente e delicioso. Ao investigar, descobriu que o Avestruz escondia fogo sob sua asa, utilizando-o para cozinhar sua comida. Sabendo que o Avestruz não lhe daria o fogo voluntariamente, Louva-a-deus engendrou um plano.
Um dia, Louva-a-deus convidou o Avestruz para comer ameixas amarelas em uma árvore. Quando o Avestruz esticou-se para alcançar as frutas mais altas, Louva-a-deus aproveitou para furtar o fogo e assim o trouxe para os San.
Desde então, o Avestruz, envergonhado, nunca mais voou, mantendo suas asas junto ao corpo para preservar o restante de seu fogo.
Análise no Contexto Africano
Esta narrativa não apenas enriquece o folclore africano com sua inventividade e simbolismo, mas também ilustra a importância do fogo para as comunidades primitivas, simbolizando conhecimento, calor e proteção. O roubo do fogo pelo Louva-a-deus, longe de ser visto como um ato de malícia, é interpretado como uma ação astuta para o bem maior da comunidade San.
A figura do Louva-a-deus, com sua família diversa e suas aventuras, reflete a complexidade das relações sociais e a riqueza da imaginação dos San, enquanto a história do avestruz destaca temas de perda, vergonha e adaptação.
Essas histórias, transmitidas oralmente de geração em geração, não apenas servem como entretenimento, mas também como meio de transmitir valores culturais, ensinamentos morais e explicações para os fenômenos naturais, reforçando a conexão profunda entre os povos San e o mundo natural ao seu redor.