Os San, os primeiros povos da África, viviam em um ambiente onde a água nas regiões desérticas é tão preciosa que, para aqueles que dela dependem, pode assumir propriedades quase divinas.
Para o Bosquímano, a água é o símbolo antigo da vida. Nela, ele pode se revitalizar e recomeçar.
Os deuses e suas criaturas residiam no Céu, onde Chuva e Chama eram uma só entidade. Chama criou a terra, e sua companheira Chuva trazia o arco-íris como um cinturão ao redor de sua cintura.
Neste cenário mítico, surge o herói lendário, o Louva-a-deus (Mantis), no alvorecer do mundo, quando a face da Terra estava coberta por água.
O Louva-a-deus foi enviado para descobrir o propósito de toda a vida e pediu à abelha que o guiasse.
Sobre as águas turbulentas e escuras, a abelha carregou o Louva-a-deus. (As abelhas, como produtoras de mel, são uma imagem de sabedoria).
Após muitos dias de busca, a abelha, no entanto, tornou-se cada vez mais cansada e fria à medida que procurava por terra firme, e o Louva-a-deus sentia-se cada vez mais pesado.
A abelha lutou bravamente, voando mais devagar e descendo em direção à água.
Finalmente, a abelha avistou uma grande flor branca, semiaberta, flutuando na água, aguardando os primeiros raios do sol.
Ela depositou o Louva-a-deus no coração da flor e plantou nele a semente do primeiro ser humano. Então, a abelha morreu.
Mas, à medida que o sol nascia e aquecia a flor, o Louva-a-deus despertou, e ali, de dentro dele, da semente deixada pela abelha, nasceu o primeiro San.
Esta narrativa, além de ser uma fascinante história de criação do povo San, ilustra profundamente a conexão intrínseca entre os seres humanos e a natureza no contexto africano. A água, elemento vital para a sobrevivência no árido deserto, é venerada e possui um significado espiritual que transcende sua mera utilidade física.
A figura do Louva-a-deus, um herói cultural dos San, simboliza a sabedoria e a resiliência necessárias para navegar pelas adversidades do mundo natural. A abelha, representando sabedoria e sacrifício, desempenha um papel crucial ao dar origem à humanidade, reforçando a ideia de interdependência entre todas as formas de vida.
Esta história reflete a rica tapeçaria de mitos e crenças que formam o legado espiritual e cultural dos San, destacando a importância da harmonia com o ambiente e o respeito pelos ciclos e mistérios da natureza.
Assim, “O Primeiro San” não é apenas um conto sobre a origem dos primeiros povos da África, mas também uma lição sobre a sustentabilidade, o respeito mútuo entre humanos e natureza, e a perpetuação da vida através da sabedoria e da conexão espiritual com o mundo natural.