No vasto universo dos mitos africanos, o mito da criação da tribo Fon, originária do Benim, narra as origens do universo, da Terra e da humanidade sob a égide da divindade tríplice Nzame. Este relato não apenas explora a cosmogonia Fon, mas também aborda questões de poder, arrogância e renovação.

No princípio, existia apenas Nzame, uma divindade composta por três entidades distintas: Nzame, Mebere e Nkwa. Foi Nzame quem, na sua faceta criadora, deu forma ao universo, à Terra e insuflou vida em sua criação.

Enquanto os três aspectos de Nzame contemplavam a obra recém-criada, surgiu a decisão de nomear um governante para a Terra. Inicialmente, criaram o elefante, o leopardo e o macaco, mas logo perceberam que era necessário algo mais grandioso.

Juntos, moldaram uma nova criatura à sua imagem, a quem deram o nome de Fam (poder), encarregando-o de dominar a Terra. Porém, não demorou muito para que Fam se tornasse arrogante, maltratando os animais e negligenciando o culto a Nzame.

Irritado com a insolência de Fam, Nzame desencadeou trovões e relâmpagos, destruindo toda a criação, exceto Fam, a quem havia prometido imortalidade.

Nzame, em suas três manifestações, decidiu renovar a Terra e tentar novamente. Sobre a Terra antiga, espalhou uma nova camada de solo, da qual brotou uma árvore. As sementes dessa árvore deram origem a mais árvores, cujas folhas, ao caírem na água, transformaram-se em peixes, e as que caíram na terra, em animais.

A Terra ressequida e antiga ainda jaz sob a nova, acessível através da escavação até o carvão, testemunho do mundo anterior.

Então, Nzame criou um novo homem, Sekume, destinado a conhecer a morte, e lhe deu uma companheira, Mbongwe, formada a partir de uma árvore.

Esses seres foram dotados de Gnoul (corpo) e Nissim (alma), sendo o Nissim a fonte da vida. Quando o Gnoul falece, o Nissim persiste.

Sekume e Mbongwe geraram muitos filhos e prosperaram, povoando a Terra renovada.

Análise no Contexto Africano

Este mito Fon destaca a interação complexa entre criação, destruição e renascimento, simbolizando o ciclo contínuo da vida e a inevitabilidade da morte. A narrativa reflete sobre a responsabilidade do poder e as consequências do desrespeito às leis divinas e naturais.

A concepção de uma divindade tríplice sugere uma compreensão multifacetada do divino, que se manifesta de diversas formas para criar, destruir e renovar. A criação da humanidade à imagem dos deuses, seguida pela introdução da mortalidade, ressalta a dualidade da existência humana, marcada tanto pela capacidade de criação quanto pelo destino inevitável da morte.

Este mito não só fornece insights sobre as crenças e valores da tribo Fon, mas também contribui para o rico mosaico das tradições mitológicas africanas, que continuam a oferecer profundas lições sobre a natureza do universo, a sociedade e o indivíduo.