O povo San/Bosquímanos, habitantes ancestrais das vastas extensões da África, tece em sua tradição oral histórias de feiticeiros, bruxas e bruxaria, refletindo a importância profunda que esses seres místicos e seus encantamentos possuem em suas próprias vidas.

Contam sobre dez belas irmãs de uma mesma família.

Certo dia, enquanto brincavam juntas no rio, em meio ao calor intenso, um estranho ancião se aproximou. Com voz rouca, pediu: “Sirvam-me um pouco de água, belas moças, estou com muita sede.”

“Que feio ele é,” cochicharam entre risadas, “parece um velho sapo.” Todas caíram na gargalhada, exceto uma, que se envergonhou da grosseria de suas irmãs.

Para o azar delas, o velho era, na verdade, um mago poderoso, que num piscar de olhos transformou nove das irmãs em altas e esguias árvores, curvando-se ao longo da margem do rio.

A filha educada correu aos prantos até seus pais e relatou o ocorrido.

Os pais, tomados pelo luto, correram até a margem do rio com um machado, e o pai tentou derrubar a árvore mais próxima, mas ficou horrorizado ao ver sangue brotar da casca fendida.

Três vezes ele tentou, e em todas as vezes o sangue fluiu, obrigando-o a parar.

Com tristeza, os pais enviaram sua única filha restante para viver em uma terra distante, temendo a ira do mago, mas eles próprios permaneceram em lágrimas sob as árvores choronas para sempre.

Análise no Contexto Africano:

Esta narrativa dos Bosquímanos não é apenas um conto de advertência sobre o respeito aos mais velhos e às forças místicas, mas também um espelho da cosmovisão africana, onde o natural e o sobrenatural se entrelaçam intimamente. As histórias como essa servem para transmitir valores culturais, ensinamentos morais e a compreensão do mundo invisível que, acreditam, coexiste com o visível.

A transformação das irmãs em salgueiros-chorões, árvores que se curvam tristemente ao longo das águas, simboliza a permanência do arrependimento e a profundidade do laço familiar, que nem mesmo a magia pode desfazer completamente. Ao mesmo tempo, a árvore chorona se torna um símbolo de perda, memória e o eterno anseio pelo que foi transformado e não pode ser recuperado.

Este conto, ao ser transmitido de geração em geração, ensina sobre a importância da gentileza, do respeito pelos outros, independentemente de suas aparências ou diferenças, e a consequência de atos impensados. Além disso, reflete a crença profunda na existência de uma justiça maior, que rege o universo e a vida dos indivíduos, ensinando as crianças e os adultos sobre as complexidades das relações humanas e o poder da natureza e do sobrenatural na vida cotidiana africana.