A influência do clima africano na vida dos Hotentotes, assim como nos Bosquímanos, era de extrema importância, especialmente para os primeiros, que tinham rebanhos para cuidar. A necessidade de chuvas adequadas para a pastagem era tão vital que gerou uma série de rituais de festas e danças com o objetivo de atrair as tão desejadas precipitações.

Uma prática peculiar envolvia a busca no mato pelo camaleão, um animal considerado portador da chuva. Uma vez encontrado, o camaleão era enterrado com o estômago virado para cima, com extremo cuidado para não feri-lo, na crença de que isso provocaria chuva no mesmo dia. Caso chovesse, e após uma quantidade suficiente de água ter caído ou os trovões se tornarem assustadores, o camaleão era desenterrado e libertado.

Como alternativa ao camaleão, utilizava-se a cobra amarela, que, infelizmente, não tinha a mesma sorte. A cobra era parcialmente morta antes de ser enterrada, sendo completamente sacrificada quando não era mais necessária a chuva.

Outras práticas para induzir a chuva incluíam enterrar pedras redondas no campo e enviar pessoas que nasceram durante uma tempestade para caminhar sozinhas pelo mato.

Se a tempestade se transformasse em granizo, pedia-se ao filho mais novo da família que saísse e colocasse uma pedra de granizo na boca até que derretesse, acreditando-se que isso atenuaria o granizo.

Em situações de desespero, com a persistência da tempestade, uma das idosas era enviada para fora, instruída a levantar a parte de trás de sua saia de couro (karos) e se inclinar. Acreditava-se que o tempo, envergonhado, recuaria, fazendo com que a chuva se retirasse.

Análise no Contexto Africano:

Essas práticas refletem não apenas a dependência do povo africano em relação ao clima para a sobrevivência, mas também a sua profunda conexão e respeito pela natureza e pelos seres vivos. Os rituais de invocação de chuva evidenciam uma compreensão intricada dos ciclos naturais e da importância de manter um equilíbrio ecológico.

Ao mesmo tempo, a liberação do camaleão e a menos afortunada sorte da cobra amarela destacam a variedade de crenças e atitudes em relação aos animais, refletindo a complexa teia de significados atribuídos a diferentes espécies no imaginário cultural africano.

Além disso, as práticas curiosas para amenizar tempestades de granizo e a maneira peculiar de encerrar uma chuva forte ilustram o humor e a criatividade presentes nas tradições orais africanas. Essas histórias não apenas servem como uma cápsula do tempo para crenças e costumes antigos, mas também como uma janela para a sabedoria ancestral, ensinando sobre resiliência, respeito e a interdependência entre humanos e o ambiente natural.

Ao estudar essas superstições e práticas culturais, é possível apreciar a riqueza das tradições africanas e reconhecer a importância de preservar tais conhecimentos como parte essencial do patrimônio imaterial da humanidade.