No coração das narrativas africanas, o mito da criação Wahungwe do Zimbábue narra a origem do mundo e da humanidade através de figuras míticas e eventos sobrenaturais.
Maori, o criador, formou o primeiro homem, Mwuetsi, que veio a se tornar a lua. A ele, Maori entregou um chifre de ngona cheio de óleo de ngona e instruiu que vivesse no fundo das águas. Mwuetsi, ansiando por mais, expressou seu desejo de viver na terra. Maori consentiu, porém alertou que, ao fazer essa escolha, Mwuetsi renunciaria à imortalidade.
Com o tempo, a solidão pesou sobre Mwuetsi, levando Maori a lhe enviar uma companheira, Massassi (a estrela da manhã), para que lhe fizesse companhia por dois anos. Durante as noites, dormiam separados por uma fogueira, até que, numa noite, Mwuetsi ultrapassou as chamas e tocou Massassi com um dedo umedecido pelo óleo de ngona.
Na manhã seguinte, Massassi estava prestes a dar à luz, gerando plantas e árvores que rapidamente cobriram a terra. Ao término de dois anos, Maori levou Massassi embora, deixando Mwuetsi em pranto por oito anos. Então, Maori enviou-lhe outra mulher, Morongo (a estrela da noite), concedendo-a por dois anos.
Na primeira noite, Mwuetsi repetiu o gesto, mas Morongo revelou-se diferente de Massassi, indicando que deveriam untar seus lombos com óleo e unir-se sexualmente. Assim fizeram, e, a cada manhã, Morongo dava à luz os animais da criação e, posteriormente, meninos e meninas que se tornavam adultos naquele mesmo dia.
Maori, descontente com a proliferação, manifestou sua ira através de uma tempestade feroz, repreendendo Mwuetsi por acelerar sua morte com tanta procriação. Morongo, contudo, sugeriu a construção de uma porta em seu abrigo para esconder suas ações de Maori. Após sua construção, continuaram a se unir, mas Morongo passou a dar à luz criaturas violentas e venenosas.
Com a porta fechada, eles não conseguiram escapar das criaturas perigosas, selando assim o seu destino.
Análise no Contexto Africano:
Este mito Wahungwe reflete a complexidade da cosmologia africana, onde a criação do mundo e dos seres é frequentemente acompanhada por ensinamentos morais e reflexões sobre a natureza humana. A interação entre Mwuetsi, Massassi e Morongo, sob a supervisão de Maori, ilustra a tensão entre os desejos humanos e os limites impostos pelo divino.
A história aborda temas como a solidão, o desejo, a fertilidade e as consequências da desobediência e da busca por prazer sem limites. Através dessas narrativas, os povos africanos transmitem conhecimentos sobre o equilíbrio entre a humanidade e a natureza, a importância da moderação e o reconhecimento de um poder superior que governa o mundo.
Além disso, o mito destaca o papel fundamental das estrelas e elementos naturais na vida cotidiana e nas crenças espirituais africanas, reforçando a conexão entre o céu e a terra, o espiritual e o material, e a continuidade entre as gerações. As histórias do povo Wahungwe, assim como muitas outras tradições orais africanas, oferecem uma janela para a alma coletiva do continente, revelando a riqueza e a diversidade de suas culturas e a sabedoria ancestral que continua a inspirar e orientar suas comunidades.