Era uma vez, em tempos antigos, um caçador habilidoso que utilizava armadilhas escavadas no solo para capturar animais. Este homem vivia com sua esposa cega e seus três filhos. Durante uma de suas rondas pelas armadilhas, ele encontrou um leão, o rei da selva, que exigiu um tributo pela caça em seus domínios: a cada dois animais capturados, um pertenceria ao leão.

Certo dia, após acordarem o acordo, o caçador partiu para visitar seus parentes, deixando sua esposa e filhos em casa. Sentindo a necessidade de carne, a esposa decidiu verificar as armadilhas por conta própria, mas, tragicamente, caiu em uma delas junto com seu filho mais novo.

O leão, ao perceber a captura inusitada, decidiu esperar pelo caçador, esperando reivindicar sua parte conforme o acordo estabelecido. Quando o caçador retornou e não encontrou sua família, seguiu as pegadas até a armadilha, onde se deparou com a dolorosa cena de sua esposa e filho presos.

Ao tentar negociar com o leão, insistindo na singularidade da situação, o caçador viu-se confrontado pela inflexibilidade do leão, que se mantinha firme na reivindicação de seu tributo. Foi então que surgiu um rato, curioso com a discussão. Após ouvir ambos os lados, o rato sugeriu ao caçador que se retirasse, aceitando a perda como parte do acordo.

Contudo, o rato, astuto e compassivo, propôs ao leão que demonstrasse como a esposa do caçador havia caído na armadilha. Ao conduzir o leão até outra armadilha para reencenar o incidente, o rato fez com que o leão caísse na cilada.

Graças à inteligência do rato, a esposa cega e o filho foram salvos e retornaram para casa. Em gratidão, a mulher convidou o rato a viver com eles, oferecendo-lhe parte de sua comida. Desde então, o rato passou a coabitar com os humanos, compartilhando do mesmo alimento e, por vezes, roendo tudo o que encontrava pela frente, marcando o início de uma coexistência peculiar entre ratos e humanos. Este conto, repleto de astúcia e reviravoltas, celebra a sagacidade e a compaixão acima da força bruta, oferecendo uma origem mítica para a presença de ratos nas moradias humanas.